segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um Dia

Foi como se...
num sono opressivo
de respiração irregular
e caindo quase de um precipício,
para um abismo insondável e tenebroso,
(como são todos os abismos)
marcado pelo seu negrume denso...

Foi como se...
por longos ponteiros,
os meus olhos repousassem,
para agora despertarem
e enxergarem algo tão único,
tão utópicamente real como
uma noite de Luar...
...a...

E não apenas avistei algo...
Foi como se...
num sono onde o silêncio era rei,
acordasse subitamente
numa sala de concertos,
ouvindo a melodia sincopada da orquestra,
e a harmonia de um Lá que soava,
soava de uma corda fora de compasso,
sem relação com o tempo.
Nem chuva, nem frio...
Apenas o raiar cálido
que batia,
a favor
daquele instrumento sábio.

Foram meses os nossos dias,
e dias os momentos nossos,
minutos contemplados do surreal.
Preenchidos de curas naturais,
de melodias sempre assim,
sempre doces de mel...
como a cumplicidade perfeita
de uma guitarra nas sua caixa.
Não fico reticente portanto,
quando um dia meu,
é o vibrar de cordas
com uma vida de saudade,
que tentam,
abraçar estreitamente o vento,
gélido...

Talvez um dia floresça
um amanhecer,
carregado de nevoeiro,
onde cruzamos olhares,
haja "o carinho" que tanto estimamos,
e se ouça um cântico,
e o sol se faça bater nas faces.
Não contra a tua,
nem contra a minha,
mas a favor da de Nós.
Acredita...

Porto, 14 de Fevereiro de 2012
António Seia

O Alquimista

Aqui,
vive a Alma de um Poeta.
Torga.
Aqui, reside a Alma do metafísico,
de todo o natural,
e da intransponível beleza da serra,
o meu elixir.

Neste rochedo,
gélido que aquecemos,
reflecte-nos o pôr-do-sol,
o meu metal transformado em ouro,
minha pedra filosofal,
que se esconde à pressa,
e nos sacia.

Aqui,
eu e tu...
Basta isso para ser magia.

Vilarinho das Furnas, 25 de Março de 2012
António Seia

(P.B.E.U.D.)

Horizonte de um mar,
vasto e majestoso,
triste o mistério de não o alcançar.
Porém, paz eterna na tela por o olhar.

É que nem aquele caminho...
que paira doirado,
certo,
nem esse caminho desvenda o mistério.
Mas a paz permanece...

Gaia, 12 de Março de 2012
António Seia

Enigma

Ás vezes,
vejo-me nos teus olhos,
como um barco à vela
no mar derivando,
reflectindo nas águas sãs
o mistério do teu ser.

Porto, 23 de Março de 2012
António Seia

quinta-feira, 22 de março de 2012

Vela do Fado

Há coisas que intrigam.
como um Fado,
ramificado de ruas e ruelas,
de outrora ou de agora,
mas de sentido único.
De um destino.

Quem sabe,
forte em demasia
proferir tais palavras...
Mas tecidas na base
De um candelabro que fulgura
para um amanhecer por estrear,
que arde, não dói,
mas cura.

Se tens o inverno nas mãos,
gélido, paralisado,
e nas minhas eu levo o verão,
então...
Então unamos solstícios,
façamos dias com noites mais longas,
e noites com dias mais longos.
Para que tenhamos tempo de luta,
na procura da chave perdida
de um Eclipse que se possa
não tocar mas sentir,
lado a lado construir,
e mimar pouco a pouco...

Se tens o inverno nas mãos...
Permite-me que tas aqueça,
com o ardor das minhas
e um bom dia
por todos os ponteiros
que vamos passando.


António Seia
Porto, 22 de Março de 2012