quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ser


Queria ir em direcção ao nada,
sem destino,
sem uma única coordenada.

Queria alodialmente não estar só,
ser selvagem,
e respirar desigual dos outros.

Gostava mesmo era de ouvir mais,
pois a natureza fala tanto,
mas ninguém lhe faz caso.

Cada melodia do pássaro,
cada ramalhar da árvore,
cada sussurrado do vale,
cada passar do rio.

Pretendo ao menos uma vez,
voar livre nas asas do vento,
gritar até escassear o fôlego,
ser livre como o rio que corre e decorre quando quer.

Solto como as pétalas na brisa do verão,
Livre como em queda livre nos céus abertos,
Apartado como uma águia desaparecendo no horizonte.

Desejo ser corda de uma guitarra,
ser doce,
cantar o fado e a noite,
harmonizando todos os sons
unidos numa única pauta.

Queria isolar-me no auge da serra,
saborear o vento que não me cerra,
embeber a naturalidade de tudo,
ler Torga,
Ser...

Maia, 4 de Maio de 2009
António Seia

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